Cinema Negro nos EUA e Brasil –Dos Pioneiros aos Anos 70
- Iury Salk Rezende
- 14 de set. de 2020
- 15 min de leitura

Hoje o cinema de Hollywood e do mundo todo produz, com muita regularidade, produções sobre os negros, atemática do racismo, da exclusão social e econômica, e sobre a cultura dos afrodescendente, seja no campo da música, esportes, ciência, antropologia, comprovados por filmes premiados como Como: Moonlight, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2017, Corra (2017), de Jordan Peele, primeiro Oscar a um roteirista negro, Infiltrado no Klan de Spike Lee (2018), também ganhador do Oscar de Roteiro, 12 Anos de Escravidão de Steve McQueem, vencedor do Oscar de melhor filme em 2014 e Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Lupita Nyong'o, além do sucesso dos filmes blockbuster da Marvel, Pantera Negra, indicado a várias categorias no Oscar de 2018.





Mas até chegar a este necessário e urgente reconhecimento, depois de muitas décadas de descaso, preconceito e silêncio, O cinema negro não conseguia ter espaço junto aos grandes estúdios de Hollywood e as grandes distribuidoras de cinema, durante o século XX.
Muita luta, resistência foi necessária para construir uma trajetória de um cinema negro autêntico, através de diversos artistas notáveis que irei citar.
Estarei falando sobre este período que começa no pioneirismo dos anos 20 até o final dos anos 70, período de construção de uma linguagem cinematográfica própria, desenvolvida por vários artistas pioneiros que lutaram com muita dificuldade para desenvolver e criar seus projetos.
Vou apresentar alguns filmes realizados nos dois países que mais estiveram envolvidos com a escravatura, o Brasil e os EUA, período que vai do início do séc. 16 ao final do séc. 19. Apesar da abolição ter ocorrido no final do sec. 19 nestes dois países, a exclusão social, econômica, política dos afro descendentes permanece até os dias de hoje, como prova as atitudes de políticas públicas destes dois países dos atuais governos neofascistas abertamente racistas e neoliberais, que promovem um retrocesso social, econômico, político e de direitos.

A representação e imagem do negro dentro de nossa cultura ocidental tem percorrido uma estrada de preconceito, negligência, racismo desde as primeiras abordagens pictóricas e literatura. Os quadros de Debret ainda retrataram o dia-a-dia de torturas e punições dos escravos.


As obras de Picasso inspiradas nas máscaras africanas, que conheceu no Museu do Homem em Paris, assim com os retratos de Modigliani, fortemente influenciados por estas máscaras, despertou a curiosidade do mundo da arte, mas provocou também a pecha de que era uma arte “feia”.

O Teatro de Menestréis e Circos, também abriram espaços para atores e malabaristas negros, lembrado no do belo filme francês “Chocolate (2016), baseado numa história real do primeiro artista de circo negro na França.

Os filmes de Tarzan, que exaltam o eurocentrismo, reforçaram a subserviência e o sentimento de inferioridade dos nativos negros em relação ao herói branco, ideia também reproduzida nos quadrilhos de Lee Falk, O Fantasma.

Os Blackfaces, maquiagem grotesca que pintava de negro o rosto de atores brancos, caricaturando os personagens afro-descentes, como no primeiro filme falado “O cantor de Jazz”(1927), construindo os estereótipos que são sempre associados ao primitivo, ao atrasado, ao serviçal, ao supersticioso, a ameaça e ao animalesco.
Para piorar temos um vergonhoso exemplo, de um clássico do cinema do diretor D. W. Grifith, O Nascimento de uma Nação (1915), geralmente incluído entre os filmes mais importantes do cinema pelas enormes inovações técnicas, mas é uma descarada homenagem à ku kluz klan.

Neste filme as personagens negras são representadas com pesadas maquiagens, o grotesco blackface, de forma caricata, estúpida e bestial. Em “Infiltrado na Klan”, filme de Spike Lee, que na minha opinião foi o melhor filme de 2018, tem uma cena com os membros da Klan assistindo o filme como se fossem uma enlouquecida torcida de jogo de futebol, gritando, Louvando, excitados com as imagens do cavaleiros da klan atacando os ex-escravos.
Encontramos no pioneirismo de cineastas como Oscar Micheaux, primeiro negro a dirigir um longa-metragem no mundo com a obra The Homesteader (1919), que contrapõe o filme O Nascimento de uma Nação (1915). Micheaux também dirigiu: Within Our Gates (1920) e Body and Soul (1925).

Vou falar sobre alguns filmes dos anos 20
Anos 20



Within Our Gates (Oscar Micheaux, 1920)
Este impressionante filme que confornta à supremacia branca, tanto na tela quanto fora dela, também foi escrito e produzido por Micheaux. “Within Our Gates” dá seu tom agudo e nada sentimental com seu primeiro intertítulo: “Encontramos nossos personagens no Norte, onde os preconceitos e ódios do Sul não existem - embora isso não impeça o linchamento ocasional de um negro.”
O filme logo se concentra em uma jovem corajosa que, enquanto viaja entre o Sul e o Norte, fugindo de circunstâncias injustas e levantando dinheiro para uma escola, se torna a personificação da luta histórica.
Por meio de sua história e de sua narrativa - incluindo seu uso brilhante de flashbacks - Micheaux enfatiza insistentemente como o passado molda o presente, mas não consegue defini-lo
Zora Neale Hurston Fieldwork Footage (Zora Neale Hurston, 1928)
Na década de 1920, a extraordinária autora e antropóloga, Zora Neale Hurston - cujos títulos incluem o romance “Seus olhos estavam observando Deus” - começou a incorporar o cinema ao seu trabalho de campo etnográfico, filmando mais de uma dúzia de rolos de película no sul.
Embora ela tenha tido uma breve e tentadora aventura de trabalhar em Hollywood, no início dos anos 1940, como consultora de histórias para a Paramount Pictures, é o seu olhar sobre os negros sulistas que permaneceu como sua contribuição indelével para a arte.


Os Curtas: Black and Tan e St. Louis Blues ( de Dudley Murphy, ambos de 1929)




Esses dois curtas pioneiros do cinema sonoro parecem profetizar o surgimento dos videoclipes. Cada um é construído em torno de uma apresentação de números musicais anunciados no título por grandes artistas da época: Duke Ellington e Bessie Smith.
Em ambos os filmes assistimos os voos destes gênios musicais e da dança, em histórias que misturam melodrama, comédia e realismo, prestando homenagem às glórias da arte afro-americana e reconhecendo as difíceis circunstâncias em que elas se enraizaram e floresceram.
Anos 30
Nos anos trinta foram realizados diversos filmes dirigidos, produzidos e atuados por negros, geralmente curtas e média metragens, com histórias de aventuras ou western, que exaltavam o heroísmo de certos personagens, como um xerife ou cowboy afro-descendente.


Estes filmes curiosos alimentavam uma boa auto-estima do público, cansado de serem retratados como serviçais bobos e medrosos, na pele dos atores como Mantan Moreland e Stepin Fetchit.

Stepin Fetchit, apesar de viver personagens caricatos, teve algum destaque em diversos filmes do mainstream hollywoodiano, e se tornou o primeiro astro negro.
Na série de 2019, Wachtmen, o primeiro episódio retrata uma cena de um infante espectador assistindo um destes filmes, o que inspirou esta criança se tornar um dos minutemen, heróis vigilantes dos anos 40, mas tinha uma mascara em volta da cabeça para encobrir a sua pele.
Um filme realizado em 1930 “Hell-bound train” dirigidos por James and Eloyce Gist, faz parte de uma série de filmes dessa época que hoje estão perdidos. Estes filmes filmados com nitrato de celulose eram de alto combustão e a maioria foram destruídos por mal acondicionamento em galpões e armários de madeira, sem nenhum controle de temperatura.
Um filme dirigido pelo mestre dos melodramas nos anos 30 , John Stahl, Imitação da Vida de 1933, tem um plot de destaque, além da heroína do filme vivida por Claudet Coubert, temos o personagem da sua emprega, papel encarnado pela atriz Louise Beavers, que sofre com o dilema da sua filha, vivida por Fredi Washington, que aparenta ser branca e esconde de todos sua descendência. Este filme foi refilmado por Douglas Sirk nos anos 50 e ganhou toques mais trágicos do que a da 1ª versão.


Ainda nos anos 30 o Musical Show Boat – Barco das Ilusões (1936) tem a memorável canção de Jerome Kern que resalta a labuta e sofrimento do trabalho braçal do escravo em “Old Man River” na galvânica interpretação e voz de tenor de Paul Robeson. O filme foi dirigido por James Whale, o mesmo de Frankenstein de 1931.


Em 1939 foi o ano de reconhecimento para o negro no cinema ao premiar com o Oscar de melhor atriz coadjuvante a memorável Hattie McDaniel. Apesar da premiação Hattie não pôde se sentar na mesma mesa que seus colegas de elenco; foi relegada a papéis de empregada pelos brancos e rejeitada pelos negros, que não entendiam sua adesão ao estereótipo com o qual Hollywood havia reduzido sua raça.





Protestos de manifestantes negros se tornaram destaque nas portas de alguns cinemas que apresentavam o filme.
Hattie morreu sem um tostão. E O Vento levou, apesar de ser um símbolo de Hollywood da era de Ouro, também representa uma visão completamente distorcida de como os escravos eram tratados e de como eles estavam ajustados à servidão, completamente subservientes as suas condições miseráveis e sem nenhum direito, e transparecendo ser muito felizes com esta terrível condição. Esta atitude hipócrita tem legado hoje a exclusão deste clássico de muitas plataformas de streaming, em solidariedade à vergonhosa história da escravidão nos EUA.
Anos 40
O musical Stormy Weather de 1943 foi um marco no cinema negro por dar destaque a grandes atores, músicos e cantores como Bill Robinson, Cab Calloway, Dooley Wilson, Fats Waller, Fayard Nicholas, Nicholas Brother, e a lindíssima Lena Horne.



Um destaque deste filme são as apresentações de dança dos inigualáveis Nicholas Brothers, uma dupla de dançarinos espetaculares, tão geniais quanto aos astros Geny Kelly e Fred Astaire, mas não tiveram um lugar no panteão da fama como os seus colegas brancos. Eles tinham uma técnica altamente acrobático conhecida como " dança do flash ". Com um alto nível de arte e inovações ousadas. Seus desempenhos no número musical "Jumpin' Jive" (com Cab Calloway e sua orquestra) apresentado no filme Stormy Weather é considerado por muitos como a exibição de dança mais virtuoso de todos os tempos.

Dirty Gertie From Harlem U.S.A., um filme de 1946, baseado no romance de W. Somerset Maugham, dirigido por Spencer Willians, também foi destaque nos anos 40 pela triunfante interpretação da atriz e cantora Francine Everet.




Outro clássico foi Intruder in the Dust, um filme de drama policial de 1949, produzido e dirigido por Clarence Brown e estrelado por David Brian, Claude Jarman Jr. e Juano Hernandez. O filme é baseado no romance homônimo de 1948, de William Faulkner.


1950
Um filme sobre o astro do baisiboll, Jackie Robinson, The Jackie Robinson Story de 1950, filme biográfico dirigido por Alfred E. Green e estrelado por Jackie Robinson, foi grande destaque neste período.
O filme narra a vida de Jackie Robinson desde a juventude, passando por sua fase universitária na Universidade da Califórnia, até se tornar uma lenda como jogador de beisebol do Brooklyn Dodgers. Jackie venceu injustiças raciais e se tornou o primeiro afro-americano a entrar nas principais ligas profissionais dos Estados Unidos.

Em 1958 o filme Acorrentados, de Stanley Krammer colocou a discussão aberta sobre o racismo e a intolerância nas telas ao algemar Tony Curtis e Sidney Poitier. Joker (Tony Curtis) e Noah (Sidney Poitier ) são prisioneiros que se odeiam. O ônibus que os leva para o presídio sofre um acidente e eles conseguem fugir. Com a polícia em seu encalço, a dupla terá de superar as diferenças para seguir em frente. “Acorrentados” é um clássico anti-racista inesquecível de uma época quando os Estados Unidos eram abertamente segregativo.
Stanley Kramer é responsável por outro filme anti-racista, “ “Adivinhe quem Vem para Jantar”, também estrelado por Sidney Poitier.

Carmen Jones (1954)
Musical dirigido por Otto Preminger, baseado na ópera de Bizet. Carmen Jones, interpretada por Dorothy Dandridge, é um furacão sedutor que vira a cabeça do soldado Joe (Harry Belafonte). Mesmo comprometido com a ingênua Cindy Lou, Joe se envolve com Carmen, acaba desertando do regimento após uma briga e fugindo com ela para Chicago. O filme tem belos números musicais que destacam a importância do ritmo da música africana que fortemente influenciou os gêneros musicais como o Jazz, Ragtime, Dixiland, Blues, Rhythm and blues, o Rock e o Samba.



No Brasil, a partir da década de 1950, emergiram novas ideias, novos projetos e novas perspectivas no cinema brasileiro. Ocorreu uma espécie de tomada de consciência cultural e política na nova geração de artistas e profissionais da área, que aspiravam por produções mais originais e conectadas à realidade nacional. Assim, abria-se uma conjuntura favorável ao surgimento de novos projetos, capazes de levar para as telas de cinema do país propostas temáticas e narrativas engajadas, que retratassem os dilemas, os impasses e os desafios da nação. O cinema de Nelson Pereira dos Santos se enquadrava com estas novas aspirações.


Ele realizou em 1955, Rio 40 graus, filme dividido em episódios, que mostra a dura realidade dos morros cariocas. O tema do filme é o samba A Voz do Morro, de Zé Keti, que também atuou como ator no filme, interpretando o personagem Neguinho É considerado uma obra inspiradora do cinema novo, movimento estético e cultural que pretendia mostrar a realidade brasileira. O filme foi censurado pelos militares, que o consideraram uma grande mentira, afirmando que no Rio nunca fez 40º graus. Parece que eles não entenderam a metáfora do Título.

Em 1957 Nelson Pereira realizou Rio Zona Norte, O filme narra a trajetória e as agruras da vida de um sambista carioca que vê no samba a inspiração para retratar um pouco de sua vida e narrar o que vê e sente.
O filme traz informações relevantes sobre o samba de raiz e as dificuldades dos elementos anônimos que criam letras e muitas vezes são trapaceados por pessoas que lucram sobre os direitos autorais. A interpretação de Grande Otelo neste filme é maravilhosa.
Em 1959 foi realizado Shadows um filme de improvisação sobre as relações inter-raciais durante a Geração Beat em Nova York, sendo escrito e dirigido por John Cassavetes. Shadows é considerado por muitos como um filme independente, especialmente por se tratar de um estudo próprio da linguagem cinematográfica e da dinâmica da atuação/locação não-fixa e do elenco não profissional. Em 1960 ganhou o Prêmio da Crítica no Festival de Veneza.


O Diabo, a Carne e o Mundo (1959)

Filme apocalíptico de ficção científica, escrito e dirigido por Ranald MacDougall . tem participação do astro Harry Belafonte , que estava então no auge de sua carreira cinematográfica. O filme é ambientado em um mundo pós-apocalíptico com muito poucos sobreviventes humanos. É baseado em duas fontes: o romance The Cloud roxo por MP Shiel e a história "Fim do Mundo" por Ferdinand Reyher . Durante boa parte da trama Belafonte e uma jovem branca são os únicos habitantes de Nova York, e a impossibilidade para que se tornem um casal é evidenciado pela absurda barreira e convenção social racista de que um casal inter-racial não era permitido, mesmo se fossem o último casal da Terra.
Finalmente aparece mais um personagem na história, que acaba gerando um conflito entre os dois homens, pela disputa da jovem, o que acabaria se tornando a explosão de uma 4ª guerra mundial.


Anos 60
Nos anos 60 surge no Brasil o Cinema Novo, um movimento artístico-cultural caracterizado pelo projeto de criar um "moderno" e "autêntico" cinema brasileiro, que descolonizasse a linguagem dos filmes e abordasse criticamente o subdesenvolvimento, as desigualdades sociais, a penúria dos segmentos subalternos, as contradições e outras mazelas do país.
Dentro da filosofia estética e autoral dos cineastas deste movimento a temática do Negro no Brasil no Cinema teria um lugar de destaque dentre as primeiras produções que aconteceram em meados dos anos 60. Esta proposta foi cristalizada na estreia de dois filmes, dos mais importantes nomes do Cinema novo, Glauber Rocha e Caca Diegues: Barravento (Glauber Rocha, 1962) e Ganga Zumba (Carlos Diegues, 1964) .



O primeiro desses filmes mostra a história de uma pequena (e subdesenvolvida) comunidade de pescadores no litoral baiano, cujos antepassados vieram da África como escravos. A história de Barravento é um pouco agitada e parecida ao aspecto formal do filme. A intenção não foi a pesquisa de um ambiente negro, mas das consequências do misticismo e das crenças, de uma coletividade de pescadores do litoral baiano.


Já Ganga Zumba (1964), filme dirigido por Carlos Diegues, retrata (e celebra) a resistência negra e a vida do primeiro líder do Quilombo dos Palmares. A trama começa num engenho de cana-de-açúcar, no Nordeste brasileiro no século XVII, quando muitos escravos fogem dos senhores portugueses e constroem comunidades autônomas chamadas de quilombos, das quais a principal foi a de Palmares, situada na Serra da Barriga.
Em Esse mundo é meu (Sergio Ricardo, 1964) - filme que narra as histórias (de dois trabalhadores favelados do Rio de Janeiro: um negro e engraxate; o outro branco e operário de uma metalúrgica e destaca sua intenção de explorar um tema antirracista.
Nos EUA:
Symbiopsychotaxiplasm: Take One é um documentário experimental de 1968 escrito, dirigido e concebido pelo diretor e documentarista afro-americano William Greaves. Contém uma série de cenas estranhas que poderiam ter sido roteirizadas por Edward Albee, autor teatral da famosa peça Quem tem medo de virgínia wolf.
A equipe, por sua vez, fica cada vez mais frustrada com o comportamento errático do diretor que levam a uma série de pesadas reuniões de terapia de grupo, a passos de motim.



Este híbrido inclassificável de documentário, comédia de bastidores e pegadinha de vanguarda parece ao mesmo tempo um artefato vital de seu tempo e uma premonição de nosso atual momento. É um divertido filme de metalinguagem e sem ser em qualquer sentido aberto "sobre raça", é maliciosamente eloquente sobre as lutas do artista negro em uma sociedade supostamente liberal.
The Story of a Three-Day Pass
Dirigido por Melvin Van Peebles, 1968
A história é sobre um passe de três dias de um militar negro que decide aproveitar estes dias na França. Este filme, realizado em preto e branco, escrito e dirigido, no estilo da New Wave francesa, por Melvin Van Peebles, foi baseado em um romance que ele mesmo escreveu em francês, La Permission.
Neste filme de Van Peebles filtra a narrativa elíptica, a cinematografia em preto-e-branco e os humores existenciais da New Wave francesa através de sua sensibilidade de espírito livre e politicamente astuto. Um soldado afro-americano (Harry Baird) passando uns dias na França, durante uma curta licença, tem um caso com uma jovem francesa (Nicole Berger). Sua história se torna um prisma para um tema fundamental dos anos 1960: o desejo de libertação em face de impedimentos absurdos, de pessoas profundamente arraigadas que condenam as suas escolhas.
The Learning Tree
Direção: Gordon Parks, 1969




No momento em que Parks - o fotógrafo, romancista e cineasta - disse “ação” no set de filmagens de “The Learning Tree”, ele quebrou décadas de apartheid de Hollywood. Com esse delicada obra sobre a memória, produzido pela Warner, Parks se tornou o primeiro diretor afro-americano a realizar um filme em um grande estúdio. Baseado no romance homônimo de Parks, ele acompanha a maioridade do protagonista, Newt Winger, em uma Kansas rural dos anos 20, que é por sua vez, paradisíaco e assustador.
Repleto de beleza visual, e misturada com cenas de barbárie abrupta – provocada por um xerife branco que atira em dois homens negros nas costas e mesmo assim fica impune. O filme pinta uma imagem agridoce, ricamente texturizada e triste de um jovem, cuja vida é irrevogavelmente definida.
Anos 70
I Am Somebody (Madeline Anderson, 1970)



O tema deste estimulante documentário de 30 minutos é uma greve de 1969 de centenas de trabalhadoras, principalmente do sexo feminino, contra um hospital em Charleston. Sujeitos a práticas discriminatórias, insultos e salários mais baixos do que os ganhos por seus colegas brancos, esses trabalhadores procuraram se sindicalizar, mas sua campanha foi recebida com violência policial e prisões em massa. Com uma tangível intimidade e alcance político, a diretora Madeline Anderson - que produziu, dirigiu e editou “I Am Somebody ”- permitiu que estas impressionantes mulheres falassem por elas mesmas, uma escolha cinematográfica que coloca a luta destas trabalhadoras de forma emocionante. É um filme para todos os trabalhadores.

Ganja & Hess (Bill Gunn, 1973)
Este filme é do ator, dramaturgo e cineasta, Bill Gunn, que morreu aos 54 anos em 1989. Ele foi uma figura singular do movimento do cinema independente negro de Nova York nas décadas de 1970 e 1980. Este foi o segundo de três filmes que ele dirigiu, que ganhou um remake por Spike Lee (como “Da Sweet Blood of Jesus” em 2014). É um filme sobre vampiros, mas é menos um filme de terror do que blackesploitation como o famoso Blacula de 1972, feito com apuro formal, acadêmico e realista sobre compulsão e desejo negro.
Compasso de Espera (Antunes Filho, 1973)


Compasso de Espera é um filme de drama produzido no Brasil dirigido por Antunes Filho as filmagens iniciaram e finalizaram em 1969 porem o filme foi censurado sendo lançado apenas em 1973.
O filme foi inovador por colocar o papel de um negro dentro da sociedade industrial, diferente dos outros filmes nacionais que exploraram a figura do negro brasileiro apenas como escravo ou trabalhador braçal.
Antunes Filho tratou o tema do negro do Brasil, revelando a doença de uma geração, insegura, mesmo fazendo parte de uma sociedade capitalista, letrada e sofisticada, com personagens que estão sempre no papel de quem se justifica, pede desculpas, complexado, subserviente.
Alma no Olho (Zózimo Bubul, 1974)

“Alma no Olho” é um filme do cineasta Zózimo Bulbul, grande representante do cinema de invenção brasileiro. Filmado sobre um fundo branco e com único ator (o próprio diretor), o curta atravessa alguns séculos de história: desde a África antes da invasão europeia até a vida de exclusão imposta ao negros na sociedade brasileira . Com uma música de John Coltrane, o filme foi baseado no livro “Soul Ice”, de Eldridge Claver, líder dos Panteras Negras.
Mahogany (1975) do diretor Berry Gordy
Tracy , interpretada pela cantora pop Diana Ross, é uma jovem negra e pobre de Chicago, que sonha tornar-se uma estilista de moda. Descoberta em seu local de trabalho, uma loja de departamentos elegante da cidade, por um famoso fotógrafo, Sean (Anthony Perkins), se muda para Roma onde consegue sucesso primeiro como modelo, e depois como estilista. Este filme que foi sucesso de bilheteria foi importante por colocar um personagem negro, ainda mais feminino, como uma representação de sucesso.
Killer of Sheep (Charles Burnett, 1977)
Burnett é considerado um dos maiores cineastas americanos. Burnett estudou Los Angeles na UCLA, Universidade de Los Angeles, e este é seu filme mais conhecido e importante pela intima e realística apresentação de famílias negras americanas.
É um dos filmes essenciais do cinema americano. “Killer of Sheep” conta um libelo de amor, à família, assim como revela o desespero brutalizante e a luta pela dignidade humana, inefável e persistente. Ambientado em Watts, uma parte de Los Angeles raramente vista em filmes convencionais, o filme é centrado em Stan (Henry Gayle Sanders), um pai que trabalha em um matadouro, cujo fardo existencial pesa muito sobre sua família, bem como cada palavra e gesto seu. Burnett costuma ser associado à L.A. Rebellion, um grupo de cineastas negros de Los Angeles que trabalhou fora da vanguarda branca do cinema independente.



Esse é um dos motivos pelos quais os críticos e o público demoraram tanto tempo para acompanhar esta obra-prima, que é tão radical em sua forma e conteúdo quanto é indelevelmente comovente.
Apartir dos Anos 80 até os dias de hoje o cinema negro começou a ganhar espaço dentro o cinema mainstream Hollywoodiano e do cinema brasileiro através de atores veteranos e novos astros como: Eddie Murphy, Richard Pryor, Denzel Washington, Danny Glover, CCH Pounder, Chiwetel Ejiofor, Aílton Graça, Antônio Pitanga, Forest Whitaker, Viola Davis, Camila Pitanga, Dhu Moraes, Don Cheadle, Djimon Hounsou, Tony Tornado, Laurence Fishburne, Samuel Jackson, Will Smith, Mahershala Ali, Wesley Snipes, Lupita Nyong'o, Cuba Gooding Jr., Lazaro Ramos, Angela Basset, Halle Berry e Morgan Freeman, diretores como Spike Lee, Ava DuVernay, Jordan Peele, Barry Jenkins, Kasi Lemmons, Sabrina Fidalgo, Lee Daniels, Ryan Coogler, Melina Matsoukas, Mario Van Peebles, John Singleton, o londrino Steve McQueen e os brasileiros Joel Zito Araújo, Jeferson De.


Este vídeo é dedicado à memória do fabuloso ator Chadwick Boseman, que morreu de câncer aos 43 anos, deixando um legado indelével de seus personagens.


Wakanda para Sempre.

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